quinta-feira, 1 de julho de 2010

Pais maus



Um dia quando meus filhos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães, eu hei de dizer-lhes:

Eu amei-vos o suficiente para ter perguntado aonde vão, com quem vão e a que horas regressarão.

Eu amei-vos o suficiente para não ter ficado em silêncio e fazer com que vocês soubessem que aquele novo amigo não era boa companhia.

Eu amei-vos o suficiente para vos fazer pagar os rebuçados que tiraram do supermercado ou revista da banca dos jornais, e vos fazer dizer ao dono: “Nós tiramos isto ontem e queríamos pagar”.

Eu amei-vos o suficiente para ter ficado de pé, junto de vocês, duas horas, enquanto limpavam o vosso quarto, tarefa que eu teria feito em 15 minutos.

Eu amei-vos o suficiente para vos deixar ver além do amor que eu sentia por vocês, o desapontamento e também as lágrimas nos meus olhos.

Eu amei-vos o suficiente para vos deixar assumir a responsabilidade das vossas ações, mesmo quando as penalidades eram tão duras que me partiam o coração.

Mais do que tudo, eu amei-vos o suficiente para vos dizer NÃO, quando eu sabia que vocês poderiam me odiar por isso (e alguns momentos até odiaram).

Estas eram as mais difíceis batalhas de todas. Estou contente, venci… Porque no final vocês venceram também! E qualquer dia, quando os meus netos forem crescidos o suficiente para entender a lógica que motiva os pais e mães; quando eles lhes perguntarem se os seus pais eram maus, os meus filhos vão-lhes dizer:

“Sim, os nossos pais eram maus. Eram os piores do mundo… As outras crianças comiam doces no café e nós tínhamos que comer cereais, ovos, torradas. As outras crianças bebiam refrigerantes e comiam batatas fritas e gelados ao almoço e nós tínhamos que comer arroz, feijão, carne, legumes e frutas. Nossos pais tinham que saber quem eram nossos amigos e o que nós fazíamos com eles”.

“Insistíamos que lhes disséssemos com quem íamos sair, mesmo que demorássemos apenas uma hora ou menos. Nossos pais insistiam sempre conosco para que lhes disséssemos sempre a verdade e apenas a verdade”.

“E quando éramos adolescentes, eles conseguiam até ler os nossos pensamentos. A nossa vida era mesmo chata”!

“Nossos pais não deixavam os nossos amigos tocarem a buzina para que saíssemos; tinham que subir, bater à porta, para que os nossos pais os conhecessem”.

“Enquanto todos podiam voltar tarde da noite com 12 anos, tivemos que esperar, pelo menos, até os 16 anos para chegar um pouco mais tarde, e aqueles chatos levantavam-se para saber se a festa foi boa (só para verem como estávamos ao voltar)”.

“Por causa dos nossos pais, nós perdemos imensas experiências na adolescência. Nenhum de nós esteve envolvido com drogas, em roubo, em atos de vandalismo, em violação de propriedade, nem fomos presos por nenhum crime”.

“FOI TUDO POR CAUSA DOS NOSSOS PAIS”!

“Agora que já somos adultos, honestos e educados, estamos a fazer o melhor para sermos “PAIS MAUS”, como eles foram”.

“ACHO QUE ESTE É UM DOS MALES DO MUNDO DE HOJE: NÃO HÁ “PAIS MAUS” SUFICIENTES”!

Autor: Dr. Carlos Hecktheuer, Médico psiquiatra.


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